FORÇA ELÉTRICA E FORÇA MAGNÉTICA
Como dissemos no
início deste, o efeito âmbar, isto é , a propriedade de atrair corpos leves que
o âmbar adquiri ao ser atritado, já era conhecida há mais de 2 000 anos. Praticamente na mesma
na mesma época observou-se também que certas pedras – os imãs naturais –
atraíam pedaços de ferro.
Durante
muito tempo julgou-se que estes dois fenômenos eram de mesma natureza, ou seja,
acreditou-se que ambos eram devidos a uma mesma propriedade dos corpos
materiais. Ainda na Antiguidade, entretanto, percebeu-se uma grande diferença
entre estes fenômenos: âmbar atritado exercia sua atração sobre vários ouros
corpos, enquanto o imã só atraía pedaços de ferro. Portanto, estas atrações não
deveriam ser confundidas entre se, pois correspondiam a fenômenos diferentes.
Em nossa linguagem atual, esta verificação é traduzida dizendo-se que o âmbar
atritado exerce uma força elétrica e o
imã exerce uma força magnética.
Vamos, a
seguir, mostrar de maneira sucinta como evoluiu historicamente o estudo dos
fenômenos relacionados com o efeito
âmbar, isto é. O estudo dos fenômenos elétricos.
IDEIAS INICIAIS SOBRE A ORIGEM DA FORÇA ELÉTRICA
Em todas
as referências aos fenômenos elétricos feitos pelos filósofos da Antiguidade,
encontramos sempre uma tentativa de explicação da origem das forças elétricas.
Estas explicações apresentavam as mais diversas formas, sendo algumas
teológicas e até mesmo psíquicas. Muitos filósofos atribuíam a atração a uma simpatia entre os corpos que se atraíam e outros acreditavam que os corpos
atraídos serviam de alimentos para o âmbar.
Outra
explicação das atrações elétrica, muito divulgada na Antiguidade, apresentava
um caráter mecânico ( ou material). Os defensores desta hipótese julgavam que o
âmbar atritado emitia uma substância invisível, à qual denominavam eflúvio. Esta substância estabeleceria
um contato material entre o âmbar e um objeto próximo, provocando sua atração.
Durante
a Idade Média, predominou a antiga hipótese de que a atração era devido a uma
simpatia entre os corpos. Entretanto, a i possibilidade de explicar vários
fenômenos elétricos a partir desta ideia fez com que os cientistas do Renascimento
( sec. XV e XVI) voltassem sua atenção para a hipótese matéria do eflúvio.
GILBERT PUBLICA O DE MAGNETE
No
século XVI, o médico inglês W. Gilbert desenvolveu um estudo detalhado sobre os
fenômenos elétricos e magnéticos publicando, em 1 600, um extenso tratado denominado De
magnete, no qual apresentava os resultado de suas observações, Um dos
capítulo desta obra era dedicado exclusivamente ao efeito âmbar.
Gilbert
conseguia detectar a existência de forças elétricas muito pequenas usando um
aparelho que ele inventou e ao qual denominou versorium. Este aparelho
consistia em uma seta de madeira suspensa em um suporte vertical em torno do
qual ela podia girar livremente.
Se a
seta girasse quando um corpo atritado era aproximado de sua extremidade,
concluía-se que o corpo estava apresentando o efeito âmbar ( estava
eletrizado). Como o versorium era um aparelho muito sensível , Gilbert
conseguiu verificar que um grande número de substancias atritada adquiria
aquela propriedade, e não apenas o âmbar, como se acreditava até então. Ele descreve
esta descoberta no De magnete da seguinte mineira:
“ Pois
não é apenas o âmbar, como eles supõem, que atrai pequenos corpos, mas também o
diamante, a safira , a opala, ametista, o cristal etc. Estas substâncias atraem
todas as coisas, não somente penas e limalhas, mas todos os metais, madeira,
pedra, terra e também a água e o azeite e tudo o que está sujeito a nossos
sentidos e é sólido...”
Para
explicar a tração exercida por todas aquelas substâncias, Gilbert adotou a
hipótese eflúvio, rejeitando
veementemente a ideia da simpatia entre os corpos que se atraíam.
Apesar
do grande número de cuidadosas experiências realizadas por Gilbert, ele não
chegou a observar a existência da repulsão entre dois corpos eletrizados. Como
sabemos, quando um corpo leve é atraído por um objeto atritado, após tocar este
objeto o corpo é repelido por ele. Este fenômeno só foi descoberto, pela
primeira vez, alguns anos após a morte de Gilbert, pelo jesuíta italiano
Nicolo Cabeo. Em virtude desta
descoberta, a teoria do eflúvio teve de sofrer modificações, pois ela não era
capaz de explicar o fenômeno da repulsão elétrica.
CONDUTORES E ISOLANTES
Após a
publicação dos trabalhos de Gilbert, durante todo o século XVII vários
cientistas preocuparam-se em realizar experiências com corpos eletrizados,
usando preferencialmente tubos e esferas de vidro, material este que se mostrou
bastante adequado para este tipo de experiências. No início do século XVIII,
alguns experimentadores perceberam que era possível eletrizar um corpo
ligando-o, por meio de um fio, a um
outro corpo que tivesse adquirido eletricidade por atrito. O cientista
francês François Dufay , analisando estas experiências, concluiu que a
intensidade da eletricidade do corpo por meio da ligação dependia do material
de que era feito o fio. Ele chegou, então, à conclusão de que certas
substâncias conduziam bem a eletricidade, enquanto outras não o faziam. Desta mineira, estavam
sendo estabelecidos os conceitos corpos condutores e corpos isolantes, tais como os conhecimentos atualmente.
EXISTEM DOIS TIPOS
DE ELETRICIDADE
Prosseguindo
com o estudo da repulsão elétrica, que Cabeo
havia iniciado, Dufay procurou dar uma explicação para o fenômeno. Ele
supunha que um corpo atraído por outro eletrizado era repelido depois de
tocá-lo porque se tornava também eletrizado. Concluiu, então que dois corpos
eletrizados sempre se repelem. Entretanto, esta ideia inicial de Dufay teve de
ser modificada, pois ele mesmo observou, mais tarde, que um pedaço de vidro
atritado com seda atraía um pedaço de âmbar atritado com pele, isto é, dois
corpos eletrizados podiam se atrair. Baseando-se em um grande número de
experiência, Dufay lançou , então, as
bases de uma nova hipótese que teve grande aceitação durante todo o século
XVIII. Segundo ele, existiam dois tipos de eletricidade: eletricidade vítrea, aquela que aparece em um pedaço
de vidro atritado com seda, e eletricidade resinosa, aquela que aparece no
âmbar atritado com pele ( o termo resinosa
foi usado por ser o âmbar uma
resina) repeliam uns aos outros, Por outro lado, corpo com eletricidade de
nomes contrários atraíam-se mutuamente.
A TEORIA DOS DOIS FLUIDOS ELÉTRICOS
Para
explica que fluidos e estes dois tipos de eletrização eram observados,
lançou-se também a ideia da existência de dois fluidos elétricos : um fluido vítrea e um fluido resinoso. Em um corpo
normal, não eletrizado, estes dois fluidos apresentavam-se misturados em igual
quantidade, Ao atritar, por exemplo, o vidro com a seda, havia passagem, em
igual quantidade, de fluido vítreo da seda para o vidro e de fluido resinoso do
vidro para a seda.
Assim, o
vidro apresentava-se com eletricidade vítrea porque passou a ter um excesso de
fluido vítreo, que passou a ter um excesso de fluido resinoso, apresentava-se
com eletricidade resinosa.
Portanto,
de acordo com estas ideias, a eletricidade não criada quando um corpo em atritado,
Os fluidos elétricos já existiam nos corpos e havia apenas uma redistribuição
destes fluidos quando os corpos eram atritados. Esta teoria passou a ser
conhecida com o nome de teoria dos dois fluidos e com ela era possível explicar todos os fenômenos
elétricos conhecidos na época.
A TEORIA DO FLUIDO ÚNICO DE BENJAMIM FRANKLIN
No
decorrer do século XVIII, as experiência com corpos eletrizados tornaram-se
muito populares e eram realizadas em praças públicas, mesmo por pessoas leigas,
apresentando resultados espetaculares que atraíam a atenção de um grande
público. Foi ao assistir a um desses espetáculos que o cientista americano Benjamin Franklin
se interessou pelo estudo dos fenômenos elétricos . Este cientista realizou um número muito grande de
experiências que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da
eletricidade.
Uma
importante contribuição de Franklin, apresentada na mesma época em que a teoria
dos dois fluidos era amplamente
divulgado na Europa, foi a formulação de uma outro hipótese, denominada teoria do fluido único. De acordo com esta teoria os corpos não
eletrizados possuíam uma quantidade normal
de um certo fluido elétrico. Quando
um corpo era atritado com outro, um deles perdia parte de seu fluido, que era
transferida para o outro, Como Franklin não conhecia a terminologia usada por
Dufay, ele criou sua própria nomenclatura, dizendo que o corpo que recebia
ficava eletrizado negativamente . Esta terminologia, como
sabemos , é até hoje e corresponde, respectivamente, ao termos eletricidade vítrea e eletricidade resinosa,
usados por Dufay.
AS TEORIAS DOS FLUIDOS E AS IDÉIAS MODERNAS DE
ELETRIZAÇÃO
Do mesmo
modo que na teoria dos dois fluidos, a teoria de Franklin previa a conservação da carga elétrica, isto é. A
eletricidade não é não é nem criada nem destruída no processo de eletrização:
ela já existe nos corpos e simplesmente se redistribui entre eles quando são
atritados. Estas duas teorias da eletrização mostraram-se igualmente
satisfatórias para explicar os fenômenos elétricos conhecidos na época ( séc. XVIII). Deste modo não foi possível
optar por uma delas e os cientistas usavam ora uma, ora outra, de acordo com
suas conveniências.
É
interessante observar que a teoria dos dois fluidos está mais próxima das
ideias modernas no que se refere à constituição elétrica da matéria. De fato,
sabemos atualmente que existem dois tipos de cargas elétricas nas partículas
que constituem um corpo material. Entretanto, a teoria do fluido único de
Franklin está mais de acordo com os conhecimentos atuais na explicação do
processo de eletrização por atrito, Realmente, de acordo com as teorias
modernas, apenas um tipo de cargas elétrico transfere-se de um corpo para outro
quando eles são atritados. Deve-se destacar, porém, que, segundo Franklin, a
carga transferida durante o atrito era a carga positiva ( pela transferência do
fluido único).enquanto que, de acordo com as ideias modernas , são os elétrons
que se transferem de um corpo para outro e sabemos que eles transportam carga
negativa.
AS EXPERIENCIAS DE COULOMB COM A BALANÇA DE TORÇÃO
Até a
época dos trabalhos de Franklin e Dufay (meados do século XVIII) apenas os
aspectos qualitativos dos fenômenos elétricos tinham sido abordados. Os cientistas
sentiam que, para o progresso dos estudos relacionados com a eletricidade, era
necessário estabelecer relações quantitativas
entre as grandezas envolvidas
naqueles fenômenos.
Em particular, houve uma preocupação em relacionar quantitativamente
a força elétrica, F, entre dois corpos, com a distancia, r, entre eles. Percebendo que havia
uma certa semelhança entre a atração elétrica e a atração gravitacional ( cujo
estudo já havia sido desenvolvido por Newton), alguns físicos, no final só
século XVIII, lançaram o hipótese de que a força elétrica poderia, também
variar com o inverso do quadrado da distância entre os corpos, isto é, F α 1/r2
. Entretanto, era necessário que fossem realizadas medidas cuidadosas para verificar
se esta hipótese era verdadeira .
Entre
os diversos trabalhos que foram desenvolvidos pelos cientistas com este objetivo, destacam-se as experiências
realizadas por Coulomb que, em 1785, apresentou à Academia de Ciências da França
um relatório de seus trabalhos. Coulomb construiu um aparelho, denominado balança de torção , com o qual ele podia
medir diretamente as forças de tração e repulsão entre corpos eletrizados,
feito pelo próprio Coulomb no relatório enviado à Academia de Ciências . Duas esferas
estão equilibradas nas extremidades de uma haste horizontal, suspensa por um
fio. A esfera a está eletrizada e uma esfera b, também suspensa por um fio. A esfera a está eletrizada e uma esfera b , também eletrizada, é aproximada de a .
Em virtude da força elétrica que se manifesta entre a e b , a haste gira,
provocando uma torção no fio. Medindo o ângulo de torção do fio, Coulomb
conseguia determinar o valor da força
entre as esferas. Uma balança semelhante a esta foi usada, aproximadamente na
mesma época, por Cavendish, para
comprovar a lei de Gravidade Universal e para medir o valor da constante de gravitação G. As balanças de torça permitem
realizar medidas de alta precisão . Com sua balança Coulomb conseguia mediar
força de até 10 -8 N !
OS RESULTADOS OBTIDOS POR COULOMB
Realizando
medidas com as esferas separadas por diversas distâncias, Coulomb verificou
que, realmente, a força elétrica era inversamente proporcional ao quadrado da
distância entre elas, Além disso, ele concluiu também que esta força era
proporcional ao produto das cargas elétricas das esferas, chegando, assim, à expressão definitiva da lei que leva
seu nome, Este fato se revestiu de grande importância , uma vez que a lei
Coulomb foi a primeira lei fundamental estabelecida no campo da Eletricidade.
No decorrer dos séculos XIX e XX, um grande número de novos fenômenos elétricos
foi estudado e novas leis foram estabelecidas, provocando um notável progresso
desta área da ciência. Vários desses fenômenos e, algumas destas leis, que são
também fundamentais no estudo da Eletricidade.
Fonte: Luiz, Antônio Máximo
Ribeiro da, Beatriz Alvarenga Álvares, Física
vol 3- São Paulo;Scpione,2006